2007-23

Índice | Index, 2013

Câmera de vídeo instalada na área externa do MAM Rio. Transmissão em tempo real, sem áudio, projetada na parede do foyer do museu |
Video camera installed outside MAM Rio. Live streaming, no audio, projected at the museum's foyer
23.03 – 02.06.2013
Curador | Curator: Beatriz Lemos
Agradecimento | Special thanks: Samuel Betts / B Light

Folder

Texto | Text: Marcelo S. Norberto - versão pdf

Beatriz Lemos entrevista Luiza Baldan (versão pdf / English version pdf)

BL: Em Índice você faz a transposição do real para uma instituição de arte, ou seja, transforma-o em obra.
Nesse percurso o que se perde de realidade e o que se ganha de simbólico?

LB: Índice tem a fotografia como base de concepção se pensarmos no deslocamento do olhar através de certo enquadramento e no reposicionamento de uma cena em um novo ambiente; também por fazer alusão à histórica relação da fotografia com a arquitetura e a representação das cidades, por fornecer indícios para a construção de um imaginário sobre os lugares. No caso deste trabalho, o que o justifica enquanto videoinstalação, é ser captado e projetado em tempo real, praticamente no mesmo local onde a imagem se origina, salvo pela parede que separa o "real" do "ficcional". E esta parede é o que interessa à obra, porque é a instituição, é a arquitetura e é a cidade; é a tela onde se vê o que acontece por trás dela mesma; é o que propicia a existência de um "espaço-entre", um espaço de expectativas, palco de possíveis ações indeterminadas.

BL: Uma câmera de segurança que realça um ponto cego de um edifício, marco da arquitetura moderna, se converte em crítica social e indaga a própria instituição. O que existe desta transmutação que podemos relacionar aos seus interesses enquanto artista?

LB: O meu trabalho busca pequenas rupturas na monotonia do cotidiano, em grande parte consequentes da relação do homem com a arquitetura. Por exemplo, na série fotográfica "Diário Urbano", realizada desde 2007, faço anotações com a câmera dessas pequenas estranhezas com as quais me deparo quando caminho pelas ruas. Já nas residências que faço dentro do Rio de Janeiro, vivencio ao extremo as maravilhas e paradoxos de se morar em edifícios que fazem parte do imaginário coletivo. No caso do MAM, a experiência no espaço interno é bastante vinculada à visibilidade do entorno, mas existem pontos nos quais paredes bloqueiam esta ligação. A mostra Índice propõe o atravessamento de um desses pontos, a área "esquecida" junto ao lago lateral, como se o espectador pudesse ver através da parede cega o que acontece do lado de fora do museu.

BL: A obra pode incidir na realidade? Até que ponto ocorre uma interferência na natureza dos acontecimentos?

LB: Claro. A partir do momento em que as pessoas identificarem a câmera instalada, elas poderão se inibir ou se mostrar de maneira diferente, e neste caso não falo apenas dos transeuntes que costumam frequentar o lugar, mas dos próprios visitantes do museu que poderão interagir com a obra.

BL: Se o que está dentro depende do que está fora para existir, a obra se constitui nesse trânsito entre realidade e a projeção dessa realidade?

LB: Sim. A obra se constitui de trânsito, interferência e contemplação.

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